segunda-feira, 25 de julho de 2016

Presença

Sou exatamente como você vê...
Não sinta vergonha 
Em afirmar a cor da noite
Coroada de cabelo crespo
Embaraçados de resistência Africana
Sou exatamente como você vê
Não estranhe o corpo
Extenso, beleza nas curvas
Gingado que não tem cópia
Poros que transpiram vida
Sou exatamente como você vê...
Entenda a força da realeza
Sorriso que ilumina o dia
Olhos de lince em cada gingada
Fala afiada, revide e defesa
Sou exatamente como você vê...
Não negue meu ser mulher negra
Não omita meu valor
E nunca,
Nunca mais ouse me fazer invisível!!

CARMEN FAUSTINO

#EuMulherNegraResisto
#MulheresNegras
#TerezaDeBenguela

25 de julho - Dia internacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha



Os enfrentamentos cotidianos nos colocam em marcha sempre, todos os dias lembro que sou mulher negra periférica e se não marchar eu não existo!!
Hoje é dia de somar forças, de trocar abraços, afagos, palavras de amor e luta, para que minha marcha cotidiana tenha mais saúde e afeto!!
Hoje marcho com as minhas, por mim e por elas...pelas milhares de mulheres negras. Muitas nem percebem, mas exercem diariamente seu protagonismo, são grandes feministas das periferias e dão a cara a tapa todo dia, parindo e enterrando filhos, sustentando famílias, fazendo arte, praticando sua fé e enfrentando com dignidade todas as opressões...pois para nós não há escolha...ou é luta ou é morte!!

quinta-feira, 21 de julho de 2016

Encontro

Na espera...
Pelo mágico encontro
Mente vazia, peito cheio
Anseio, da noite mais pura
A luz, o brilho da lua
O banho, quase um ritual
Corpo responde ao toque, descubro
A meia-lua, me visto quase nua
No peito carmim, gotas de flor
No ouvido, som da diáspora negra
Em ânsia, aperto o peito
Suspiro, e acalmo o desejo
Aguardo imaginando o melhor desfecho.
Você chega...
Conhece bem meus caminhos
Bocas salivam vinho
Sons do desejo, respiros profundos
Sem pudor eu recebo, matas se irrigam
Flutuo, queimo
Aconchego no abraço
Idealizo, quero sempre esse abrigo
Se me encontro contigo, me encontro comigo

Carmen Faustino
*Publicado na antologia Pretextos de Mulheres Negras, organização de Carmen Faustino e Elizandra Souza. 2013

História sem fim

Diz que tem medo
E quer distância do bicho papão
Será?!
Histeria sem fundamento
Soberba alva e insana
No silêncio dessa gritaria
Paira a nuvem do desespero
Não aceita
Perdeu poder e privilégios
Do alto do seu castelo
Restam frustrações e as lembranças
Dos tempos em que ele era sua única posse...
E o bicho papão?
Saiu da apatia
Despertou da utopia
Da falsa abolição
Enrustida de social ascensão...
Deixou a candura para trás
Entendeu o golpe da mistura
Enfureceu!
Escureceu!
Enfatizou!
Encrespou!
Enamorou!
Engrandeceu!
Elevou!
Constatou
Que amor preto é bom
Resistência e tradição
Afirmação da negação
Caminhar sozinho é solidão
Retomou suas riquezas
Encontrou sua mais valiosa joia
Se reconstruiu Rei
Me refiz Rainha
Seguimos
Enfrentando os embates do dia
Gingando as armadilhas mundanas
Trançando reinados de sonhos crespos
Edificando com solidez as relações
E olhando atento
Sempre para o mesmo horizonte
Carmen Faustino