sexta-feira, 18 de novembro de 2016

1 ano da Marcha das Mulheres Negras!

Há um ano fomos para Brasília, marchar contra o racismo, a violência e pelo bem viver!
Produzi esse texto dias depois, para a Revista Fala Guerreira!! Dia potente e inesquecível! 


Maré Negra, de Mulher!*

            "Durante esse ano, mais uma vez presenciamos uma tempestade de violências contra o povo negro, algumas ecoaram sem muita força nas mídias, a grande maioria, o estrondo estremeceu apenas pelos becos periféricos.
            Há décadas vivemos o silenciamento das nossas tormentas e esse foi um ano de muito sal. Milhares de Mulheres Negras se banharam em lágrimas pelo extermínio covarde dos jovens negros; pelas cinzas do fogo racista no chão das Yabás, atacadas na sua dignidade espiritual; pelas armadilhas do machismo desmascarado nas redes sociais e hostilizados pelos que negam sua problemática nos espaços de convivência; pela lama que afogou a existência de um chão ancestral, riqueza maior que qualquer ouro e prata; pelas muitas mulheres violadas no seu direito de vivenciar suas escolhas, em seus corpos, seus cabelos, seus discursos e sua sexualidade; pelo racismo xingado publicamente, sem nenhum receio ou vergonha de ser racista... 
              Tristeza à deriva, solidão nebulosa.
            Seria apenas mais um período de dor e luta como os muitos que já se passaram e que ainda estão por vir, mas um valoroso vento movimentou o olhar para os nossos espelhos, reluzindo um horizonte de possibilidades mais serenas na trajetória de resistência das Mulheres Negras. O ano de 2015 foi também de muita lucidez e compreensão plena,  sobre a necessidade de romper com o silenciamento imposto as nossas especificidades e mergulhar profundamente em nosso próprio mar de feridas abertas. Um passo fundamental para o exercício da fala e a busca por espaços de fortalecimento e cura coletiva, percurso muitas vezes doloroso e exaustivo, mas essencial para a quebra dos ciclos de violências e a potencialização da nossa percepção humana e apropriação da voz.
            As histórias mal contadas, dos livros escolares aos roteiros novelescos, do senso comum construído, aos discursos acadêmicos fundamentalistas, negam todo o legado e a realeza que as herdeiras do mundo trazem consigo. Não daremos mais espaços nem voz, para aqueles que não sabem das nossas verdades e não querem enxergar os reais valores das Mulheres Negras.
            O ano de maré revolta transcorreu em afogamentos, muitas lágrimas e em 18 de novembro, desaguou na primeira Marcha das Mulheres Negras, em Brasilia – DF. Marcha essa, que passou feito um furacão e trouxe na hora certa, boa dose de bonança e brisa leve para o corpo, alma e coração das Mulheres Negras, já salgados de tanto pranto. Nossos passos vêm de longe, nossa força e capacidade resiliente também. O que para muitos parecia miragem ou delírio navegante, se tornou gigante maremoto e 50 mil mulheres viajaram pelo país, desembarcaram na capital federal e se reuniram em uma quarta-feira de sol e chuva, para gritar alto, contra o racismo, a violência e pelo bem viver. Ansiosamente esperamos por esse dia e junto às parceiras do Núcleo Mulheres Negras, nos unimos ao cortejo e seguimos em coro, aguando e fertilizamos nossas raízes, cada vez mais vivas e entrelaçadas.  
            Um encontro de Mulher Negra, com dia e hora marcados, na capital que pensa política para poucos, e em 2015 fechou pastas importantes para as políticas públicas da nossa população. Mulheres Negras que olharam para si e suas iguais acreditando na força extraordinária que temos quando estamos juntas. Os abraços, sorrisos e o respeito trocados, foi o oxigênio que precisávamos para permanecer nesse mar e dimensionar que não estamos sós e não há horizonte para nossas vontades.
            Em meio às transformações individuais e coletivas, as gerações se encontraram, as crianças se acomodaram em seus colos e as Yabás, abriram o mar de Mulher Negra, uma energia ancestral conduziu nossa caminhada e marchamos emocionadas, contemplando a paisagem do pertencimento e nos banhando de renovação. O grito de Mulher Negra ecoou longe e com ginga, beleza e sorriso no rosto, ocupamos as ruas da elite política brasileira.
            Alinhamos nossas bússolas, analisamos nossos mapas e estamos preparadas para traçar as novas rotas de navegação para os próximos anos. Trazemos na bagagem, o enfrentamento e a força necessária para os dias de aguaceiro e vendaval, mas também o acolhimento e a escuta necessária para novos e frescos tempos de remanso. A fala e o afeto também nos pertence e projetamos navegar rumo a um horizonte de protagonismo das nossas histórias de amor e dor, à nossa maneira.

            Nesse mar quem navega agora somos nós! "


Carmen Faustino - Poeta, escritora, educadora e articuladora cultural. 
Periférica da zona sul e parceira feliz das publicações negra feminina.

#MarchadasMulheresNegras1Ano
#EuMulherNegra
#Rumoao20deNovembro

*Publicado na revista Fala Guerreira em novembro de 2015

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

EVENTO: I SIMPÓSIO SOBRE CULTURAS AFRICANAS E AFRO-BRASILEIRAS - OLHARES E PRÁTICAS

Divulgando esse evento de extrema urgência e importância, para uma reflexão e discussão aprofundada das consequência do racismo no espaço escolar e a aplicação da Lei 10.639/2003

A Escola Estadual Professor José Geraldo de Lima, em parceria com o Baobá - Fortificando as raízes e a Diretoria de Ensino Sul 3 de São Paulo promovem o I Simpósio sobre Culturas Africanas e Afro-brasileiras - Olhares e Práticas: O Currículo de Ciências Humanas à partir da Lei 10.639/2003.
PROGRAMAÇÃO

CREDENCIAMENTO: DAS 08:30H ÀS 9H
MANHÃ: DAS 9H ÁS 12:30

Mesa 1
Salloma Jovino Salomão - Histórico de lutas dos Movimentos Negros Brasileiros para a inserção da história Africana e Afro-Brasileira no currículo Nacional.
Douglas Araújo - Perspectivas de ensino após a implementação da Lei 10.639/2003 - do multiculturalismo ao etnocentrismo : uma linha ténue.
Andrea Arruda - O reconhecimento do racismo institucional: nomeando conflitos escolares.

TARDE: DAS 13:30H ÀS 17H

Mesa 2
Patricio Araujo - Cultura Tradicional Africana: Mitologia e religiosidade.
Fabiana Ivo - Educação Popular: O RAP como instrumento de educação.
Cláudio Pimentel - Desafios do Ennsino sobre Cultura e Religiões Afro-Brasileiras e a Lei 10.639/2003.

Informações e inscrições para mostra de banners e pesquisas acadêmicas na temática: até 27/10 através do e-mail desu3npe@educacao.sp.gov.br com EDUARDO

OBS: Haverá emissão de certificado para quem levar trabalhos para apresentação e para os Professores de História, Sociologia e Filosofia de D.E Sul 3
Rua Antônio Mariano, 254. Jd Ipanema - Próximo ao Socorro. Zona Sul - SP