Ontem foi 8 de março.
Para mim, para as manas...
Se para você
Minha saia
Está sempre curta
Vulgar ou justa
Não se preocupe com isso
Saia de perto de mim
E tenha a certeza
Não será contigo
Que andarei na rua...
Meu decote
Não é medida
Para justificar o horror
Que assombra os corpos
E mata os sonhos
Daquelas que nunca dormem
Não tem água salgada
Que cure essa ferida aberta
Sempre em alerta
Posso ser a próxima
Vítima dessa cegueira
Rotina de mulheres mortas
Me deixe em paz
Não se aproxime
Minha pouca saia
É medida de luta
Movimenta afeto
E não roda sozinha
Se ameaçada
Saia curta e fina
Vira navalha
Corta na carne
E vê sangrar
Até esvair a dor
Silêncio ensurdecedor
A fenda do peito
Que alimenta
Fome e orgasmo
Vira buraco sem fundo
Sufoca sua opressão
E esse ódio
Das mulheres no mundo
E não venha
Me julgar louca
Dizer que minha dor
É coisa pouca
Minha saia é o limite
Para pernas livres
E a blusa colada
Não cabe mais
Em um corpo calado
É imensidão
Eu a transbordar...
Meu caminhar
Tem passos largos
Não mede esforços
Para o tamanho
Do meu desejo de mulher sã...
E outra certeza
Não sou a única
Somos muitas!
E isso não é uma ameaça
Já é uma ação!
CARMEN FAUSTINO
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