quinta-feira, 9 de março de 2017

8 DE MARÇO - SAIA

Ontem foi 8 de março.
Para mim, para as manas...
SAIA
Se para você
Minha saia 
Está sempre curta
Vulgar ou justa
Não se preocupe com isso
Saia de perto de mim
E tenha a certeza
Não será contigo
Que andarei na rua...

Meu decote
Não é medida
Para justificar o horror 
Que assombra os corpos
E mata os sonhos
Daquelas que nunca dormem 
Não tem água salgada
Que cure essa ferida aberta

Sempre em alerta
Posso ser a próxima
Vítima dessa cegueira
Rotina de mulheres mortas

Me deixe em paz
Não se aproxime
Minha pouca saia
É medida de luta
Movimenta afeto
E não roda sozinha

Se ameaçada
Saia curta e fina
Vira navalha
Corta na carne
E vê sangrar
Até esvair a dor
Silêncio ensurdecedor

A fenda do peito
Que alimenta 
Fome e orgasmo
Vira buraco sem fundo
Sufoca sua opressão
E esse ódio 
Das mulheres no mundo

E não venha
Me julgar louca
Dizer que minha dor
É coisa pouca
Minha saia é o limite
Para pernas livres
E a blusa colada
Não cabe mais 
Em um corpo calado

É imensidão
Eu a transbordar...

Meu caminhar
Tem passos largos
Não mede esforços
Para o tamanho 
Do meu desejo de mulher sã...

E outra certeza
Não sou a única
Somos muitas!
E isso não é uma ameaça
Já é uma ação!

CARMEN FAUSTINO

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